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Saúde Única: o imperativo da integração entre humanos, animais e meio ambiente

Postado em novembro 6, 2025 as 4:52 pm por Daniela Nucci

O que é Saúde Única e por que ela importa

A Saúde Única — também conhecida como Uma Só Saúde ou One Health — é uma abordagem que reconhece a conexão direta entre a saúde humana, animal e ambiental.

Em um mundo cada vez mais interligado, doenças, desastres climáticos e desequilíbrios ecológicos mostram que nenhum sistema de saúde funciona isoladamente. O que afeta o meio ambiente e os animais, inevitavelmente, afeta também as pessoas.

A Medicina Veterinária tem ganhado protagonismo nessa discussão, atuando não apenas no cuidado clínico, mas também em políticas de segurança alimentar, sustentabilidade e prevenção de zoonoses. Ainda assim, as ações concretas de Saúde Única avançam lentamente — e dependem de vontade política, investimento e cooperação entre setores.

A essência da interconexão entre humanos, animais e meio ambiente

O documento One Health No Health resume bem o conceito:

“As saúdes humana, animal e ambiental estão intrinsecamente relacionadas; a proteção de uma afeta inevitavelmente a outra e o todo.”

Essa ideia, mais do que uma teoria, é um alerta prático. Pandemias, resistência antimicrobiana e as mudanças climáticas são consequências diretas da falta de integração entre os sistemas.

Compreender essa interdependência é o primeiro passo para políticas de saúde mais eficientes, sustentáveis e justas.

Avanços conquistados pela abordagem Saúde Única

Nos últimos anos, o conceito de Saúde Única deixou o campo acadêmico e passou a orientar políticas globais e regionais. Entre os principais avanços:

1. Reconhecimento internacional

Instituições como a OMS, FAO, OMSA e UNEP incorporaram a Saúde Única em suas agendas. O Painel de Especialistas de Alto Nível One Health (OHHLEP) criou diretrizes mundiais e estratégias integradas de ação.

2. Expansão da conscientização

Congressos, eventos e publicações científicas ajudaram a difundir o tema. A sociedade começa a entender que a saúde é coletiva, e que cuidar dos animais e do ambiente é também cuidar das pessoas.

3. Integração científica e acadêmica

Universidades passaram a investir em pesquisa transdisciplinar, combinando epidemiologia, medicina veterinária, ecologia e ciências sociais. Essa união tem gerado novas ferramentas de vigilância e diagnósticos mais rápidos.

4. Políticas públicas e ODS

A Saúde Única está ligada diretamente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os de número 3 (Saúde), 6 (Saneamento), 13 (Ação Climática) e 15 (Vida Terrestre).

Principais desafios e gargalos da Saúde Única

Apesar dos avanços, ainda há grandes desafios para a implementação plena da abordagem:

  • Falta de vontade política: o discurso é forte, mas as ações são lentas e desarticuladas.
  • Recursos financeiros insuficientes: países mais vulneráveis carecem de investimento e estrutura.
  • Fragmentação entre setores: saúde humana, animal e ambiental ainda atuam de forma isolada.
  • Educação limitada: poucos profissionais são formados com visão transdisciplinar.
  • Déficit de vigilância integrada: a ausência de sistemas One Surveillance impede respostas rápidas.
  • Desigualdade social e ambiental: os efeitos da inação recaem mais fortemente sobre as populações pobres e sobre regiões degradadas.

O preço da inação: riscos de ignorar a Saúde Única

Não adotar o paradigma da Saúde Única é abrir espaço para crises interligadas e persistentes:

Aumento das zoonoses

O desmatamento, o tráfico de animais e a urbanização descontrolada ampliam o risco de doenças infecciosas emergentes, como Covid-19, influenza aviária e febre aftosa.

Resistência antimicrobiana

O uso excessivo de antibióticos na medicina e na agropecuária acelera o surgimento de superbactérias, tornando infecções comuns cada vez mais difíceis de tratar.

Crise alimentar

Doenças em rebanhos e contaminação ambiental afetam diretamente a produção e a segurança dos alimentos, ampliando a fome e a desnutrição.

Colapso ambiental

Sem ações coordenadas, o planeta enfrentará perda de biodiversidade, poluição crescente e eventos climáticos extremos.

Desigualdade e injustiça social

Os mais pobres são os primeiros a sofrer com as consequências da falta de saneamento, degradação ambiental e colapso dos sistemas de saúde.

As consequências de um mundo sem Saúde Única

Sem a integração entre saúde humana, animal e ambiental, enfrentaremos:

  • Pandemias mais frequentes e graves
  • Escassez de alimentos e água potável
  • Avanço da resistência a antibióticos
  • Perda irreversível de ecossistemas
  • Crescimento das desigualdades sociais

A Saúde Única é mais do que uma diretriz técnica — é um compromisso ético com o planeta e com as futuras gerações.

Ignorá-la significa comprometer não apenas a saúde, mas a própria continuidade da vida em equilíbrio.

Agir  agora é o único caminho

A Saúde Única representa a compreensão de que todas as formas de vida compartilham o mesmo destino.

Humanos, animais e meio ambiente estão ligados por um fio invisível que sustenta a existência — e esse fio precisa ser protegido com políticas públicas, ciência e cooperação.

Promover a Saúde Única é investir na vida, na sustentabilidade e na justiça social.

Como reforça o documento One Health No Health:

“As barreiras podem ser intransponíveis sem o entendimento da humanidade.”

Agir de forma integrada não é mais uma escolha — é o imperativo do nosso tempo.

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